Este mês, no passado dia 5, assinalou-se o Dia Mundial do Cuidador Informal.
São cuidadores informais todas as pessoas que cuidam de forma regular ou permanente de outras pessoas que estejam numa situação de dependência. Esta é a situação que muitas pessoas experienciam ao longo da sua vida, quando se veem na necessidade de cuidar de um familiar numa situação de doença ou incapacidade.
Eu, enquanto profissional de saúde, admiro imenso todos os cuidadores, mas acima de tudo os informais. Aqueles que deixam tantas vezes a sua vida de lado para colocarem a dos seus familiares à frente.
Se, por um lado, acho formidável que se estime que existam em Portugal cerca de 1,4 milhões de pessoas que cuidam de outras, na maioria das vezes apenas por amor. Já por outro lado esta ideia me parece assustadora! Pois indica que existem mesmo muitas pessoas que precisam de cuidados diretos e não há resposta (pelo menos de fácil acesso) para eles.
A grande maioria foi apanhada de surpresa neste papel e não tem formação ou conhecimentos, mas é notável a capacidade com que procuram ideias e as aprendem para poderem proporcionar melhores cuidados.
Não é difícil perceber que a realidade seja diferente do que era, basta observar o aumento da esperança média de vida e o número de pessoas que hoje em dia vive com doenças e morbilidades. Ainda assim, talvez este também fosse uma função que se via camuflada no facto de existirem famílias mais numerosas, onde era possível repartir as tarefas de cuidar, e de as mulheres não trabalharem fora de casa, deixando esse cargo para elas sem necessidade de existir absentismo e afastamento laboral.
De qualquer forma, hoje em dia o seu papel é tão preponderante que, segundo alguns estudos revelam, estes são responsáveis por prestar 80% dos cuidados que a pessoa a cuidado precisa. São estes que nos ajudam, a nós profissionais de saúde, e quase sempre conhecem estratégias para lidar com quase todos os problemas que a pessoa a seu cargo apresenta.
Para mim é mesmo uma função muito nobre que ainda sofre muito com o efeito do velho ditado “os Santos da casa não fazem milagres”. E o que sinto em relação aos cuidadores com quem tenho o privilégio de conviver é que têm uma capacidade tão grande de compreender as necessidades dos outros, mas que raramente se permitem ouvir as suas próprias necessidades.
Talvez seja por isso que se ouve tanto falar em burnout dos cuidadores! Sendo estes alguns dos sinais de alerta:
- Desmotivação de todas as tarefas, incluindo da de cuidar;
- Aumento de problemas de saúde e sintomas como: tonturas, insónias, dores de cabeça, dores articulares e cansaço acima do normal;
- Alterações ao nível psicológico como: irritabilidade, depressão e ansiedade;
- Sentir baixa autoestima e falta de confiança nas suas capacidades, até mesmo as de cuidar do outro;
- Sentir falta de tempo para si próprio, isolamento, solidão, falta de hobbies;
- Sentir menos paciência e mais sentimentos negativos em relação à pessoa cuidada
Se por acaso é cuidador e se identificou com alguma das alíneas que descrevi acima tenho também algumas sugestões. Estou certa de que as dicas que deixo não são milagrosas, mas estou convicta de que podem ajudar a melhorar a situação.
E assim sendo sugiro que os cuidadores procurem:
- Não se esquecer de si próprio e praticar o autocuidado. Realizando uma rotina onde inclua exercício físico e uma boa rotina de sono. Com cuidado com a alimentação e hidratação. E, se possível, uma parcela de meditação e relaxamento;
- Esclarecer dúvidas e obter ferramentas e estratégias junto dos profissionais de saúde que acompanham a pessoa a cuidado;
Consultar grupos de apoio, onde pode conhecer experiência e ideias que pode também vir a utilizar;
- Procurar, criar e manter fontes de lazer, momentos de relaxamento, como forma de reduzir o stresse e obter satisfação;
Conservar as relações sociais, solicitando ajuda de outros familiares para alternar os cuidados e responsabilidades, ou apenas para conviver consigo e com a pessoa a cuidado. Acima de tudo evitar o isolamento;
- Estar consciente das suas próprias limitações e necessidades, e procurar ajuda profissional sempre que necessário.
Além destas ideias que poderão ajudar todos os cuidadores informais a evitar a sobrecarga quero deixar também uma mensagem de esperança pois nesta matéria embora ainda com uma evolução muito discreta, já existe, desde setembro de 2019, o Estatuto do Cuidador Informal que já é uma vitória neste campo!
Com cada vez mais visibilidade e mediatismo, estou segura de que esta tão importante função, terá, em breve, ainda mais voz e receberá cada vez mais o apoio e ajuda necessários! Pelo menos eu assim o espero, pois, cuidar de quem cuida é fundamental!